À medida que os países em desenvolvimento passam por transformações econômicas e integração digital, a indústria de jogos de azar cresce nessas regiões com velocidade impressionante. Da América Latina ao Sudeste Asiático e à África, novos mercados estão se abrindo para atividades regulamentadas e não regulamentadas. Essa expansão apresenta promissoras perspectivas econômicas, mas também sérios desafios para governos, empresas e comunidades. A seguir, analisamos as dinâmicas desse fenômeno, as falhas regulatórias e os impactos socioeconômicos nos mercados emergentes.
Nações em desenvolvimento enxergam os jogos de azar como uma fonte de receita alternativa capaz de financiar obras públicas e programas sociais. A promessa de geração de empregos e arrecadação fiscal é atrativa para governos que buscam diversificar suas fontes de renda. Com o aumento do acesso à internet e ao uso de celulares, os jogos online têm se destacado em países como Índia, Nigéria, Brasil e Filipinas.
As projeções mais recentes indicam que, até 2025, o mercado global de jogos superará US$ 700 bilhões, com os mercados emergentes representando uma parcela significativa. Isso se deve ao crescimento das classes médias, à popularização das carteiras digitais e à flexibilização de regras em alguns países. Operadores internacionais estão entrando nessas regiões para aproveitar o crescimento inicial, oferecendo apostas esportivas, loterias e jogos de cassino adaptados às preferências locais.
No entanto, a monetização nem sempre se traduz em desenvolvimento sustentável. O impacto econômico positivo depende de regulamentações eficazes, alocação transparente das receitas e controle de fluxos financeiros ilícitos.
O investimento estrangeiro cresce em países que demonstram abertura política aos jogos de azar. Investidores financiam a construção de cassinos físicos, apoiam empresas de tecnologia locais e defendem reformas legais que favoreçam a estabilidade do setor. Quênia e Gana, por exemplo, atraíram investimentos consideráveis em plataformas móveis graças ao avanço dos seus sistemas financeiros digitais.
Esses investimentos trazem tecnologias novas, geram empregos e podem impulsionar o turismo. Contudo, exigem ambiente político estável e regras consistentes. Mudanças bruscas nas leis sobre jogos já levaram à suspensão de projetos e à retirada de investidores em alguns países.
Para garantir uma expansão responsável, é essencial que os países anfitriões ofereçam regras claras de licenciamento, proteção ao consumidor e segurança jurídica. Caso contrário, o setor pode fortalecer economias informais ou até ser explorado por redes criminosas.
Um dos principais problemas enfrentados pelos mercados emergentes é a fragilidade ou obsolescência dos seus marcos legais. Muitas legislações ainda datam de períodos coloniais e não contemplam os mecanismos modernos de jogos digitais. Isso cria brechas que facilitam a atuação de operadores em áreas juridicamente indefinidas.
Empresas frequentemente exploram essas brechas ao oferecer jogos online hospedados no exterior sem licença local. Isso dificulta a fiscalização e impede os governos de arrecadar impostos. Além disso, os jogadores ficam vulneráveis em casos de fraude ou práticas injustas.
A cooperação internacional ainda é limitada. Sem acordos entre países, a regulamentação de jogos online continua sendo um desafio complexo. Autoridades precisam investir em capacitação, criar regras específicas para jogos digitais e buscar alinhamento com órgãos reguladores globais.
Na maioria dos países em desenvolvimento, as políticas de jogo responsável são inexistentes ou muito limitadas. Com o aumento da acessibilidade, pessoas sem educação financeira ou conhecimento sobre os riscos se tornam alvos fáceis. Isso inclui jovens que utilizam aplicativos de apostas ou participam de loterias informais sem controle de idade.
Especialistas em saúde pública alertam para os efeitos de longo prazo da expansão descontrolada do setor, especialmente em lugares onde não há serviços de apoio ao vício. Problemas mentais e dificuldades financeiras são frequentes, mas muitas vezes escondidos por medo do estigma social.
Campanhas de conscientização, linhas de ajuda para viciados e sistemas de autoexclusão são medidas urgentes que os governos devem adotar. Essas ações são cruciais para impedir que o jogo se transforme em um problema social sistêmico.
A expansão dos jogos em países em desenvolvimento também altera normas sociais e dinâmicas familiares. Em regiões onde o jogo era pouco aceito, sua popularização — especialmente por meio de apostas esportivas — está transformando a visão social sobre risco e sucesso.
Jovens urbanos, em especial, se atraem pela ideia de ganhos rápidos por meio de aplicativos de apostas. Influenciadores e campanhas em redes sociais contribuem para romantizar esse hábito, muitas vezes sem revelar suas consequências reais.
Líderes religiosos e comunitários em países como Indonésia, Paquistão e partes da África manifestam preocupação com os efeitos morais e familiares dessa tendência. Ao mesmo tempo, há uma clara divisão geracional, com os jovens tratando o jogo mais como entretenimento do que como vício.
O baixo nível de educação financeira contribui para o crescimento do jogo problemático, especialmente entre quem não entende como funcionam as apostas ou os riscos envolvidos. Em comunidades com acesso limitado à educação, a promessa de lucro fácil pode levar ao endividamento coletivo.
Intervenções educacionais são fundamentais para mitigar esses riscos. ONGs e instituições públicas devem incluir noções básicas de finanças nos currículos escolares e em programas comunitários. Ensinar conceitos como probabilidades, orçamento e limites de risco ajuda a reduzir comportamentos nocivos.
Além disso, os aplicativos de apostas devem apresentar alertas educativos, limites de aposta e conteúdos informativos obrigatórios. Empoderar os usuários com conhecimento é o primeiro passo para garantir um ambiente mais seguro.
O setor de jogos de azar nos mercados emergentes é uma faca de dois gumes. De um lado, traz inovação, crescimento e geração de receita. De outro, levanta preocupações legais, sociais e de saúde pública. Para extrair benefícios sem agravar vulnerabilidades, é preciso adotar políticas equilibradas e contextuais.
Governos devem priorizar regulamentações baseadas em dados, adaptadas à realidade local e alinhadas a padrões internacionais. Isso inclui medidas contra lavagem de dinheiro, transparência fiscal e capacidade de fiscalização. A sociedade civil também deve participar para garantir que as comunidades estejam bem informadas sobre os riscos e oportunidades envolvidos.
Os próximos cinco anos serão decisivos para definir se os jogos de azar serão um aliado do desenvolvimento econômico ou um fator de instabilidade social. Colaboração internacional entre governos, empresas e organizações é essencial para moldar um modelo ético e sustentável.
Para garantir um crescimento responsável, é essencial haver parcerias entre governos, sociedade civil e o setor privado. Organismos internacionais como a ONU e a FATF podem apoiar a transparência e o combate à corrupção associada aos lucros com jogos.
É necessário criar estruturas regulatórias transnacionais para supervisionar as apostas digitais e prevenir efeitos colaterais prejudiciais. Um modelo coordenado permite a criação de padrões consistentes, melhor proteção ao usuário e redução de atividades ilegais.
Concluindo, a expansão dos jogos nos países em desenvolvimento não é necessariamente negativa — desde que seja acompanhada por regulamentação inteligente. Com políticas adequadas, educação inclusiva e monitoramento colaborativo, os jogos podem ser um componente positivo de crescimento econômico sustentável.